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Sabemos que a escola pode ser um espaço de fomento à criatividade, às descobertas, à experimentação e à expansão dos saberes, mas é igualmente verdade que ela também pode ser um lugar de controle, de endurecimento e de repressão. Essas forças antagônicas que operam no ambiente escolar não se manifestam apenas na vivência dos alunos – hoje elas são presentes, com idêntica intensidade, na atuação dos professores, na vigilância implacável de cada palavra, cada ação e cada aula.

 

No nosso tempo, o livre pensar se vê crescentemente circunscrito: escolas sem partido estão repletas de religião; discussões e materiais didáticos sobre diversidade sexual são desonestamente chamados de doutrinação; e disciplinas que poderiam ampliar os horizontes, promover o questionamento, e alimentar a criatividade e singularidade são o mais recente alvo do desmonte sistemático do ensino. Em meio a esse contexto trágico, não há postura mais radical do que enfrentar esse sistema de forma independente – seja como professor, seja como artista. 

 

Nesta exposição encontramos trabalhos que se ancoram numa linha tênue e borrada entre essas duas formas de agir no mundo. Bruno Novaes atuou como professor de arte por vários anos em escolas particulares, lidando com alunos do Ensino Fundamental e Médio. Em paralelo, vem desenvolvendo uma pesquisa artística própria, uma produção pautada no desenho, aquarela, escrita, e em suportes tridimensionais como objetos e instalações. No entanto, essas duas ocupações sempre se confundiram e se contaminaram: seus trabalhos são construídos a partir de vivências pessoais, tanto quanto de apropriações das experiências em sala de aula – inclusive realizando trabalhos em colaboração com seus alunos.

 

Contudo, houve um momento em que essas duas vidas não puderam mais coexistir, em um choque irreconciliável entre a esfera privada e a figura pública do docente. Esta exposição é, assim, como um segundo capítulo na grande narrativa da pesquisa do artista: a primeira parte apresentada sob o viés das relações pessoais, “Capítulo 1: O corpo mente menos que as palavras”, explorava desenhos e aquarelas sobre encontros românticos e experiências sociais; agora, sob a perspectiva da colisão dessa dimensão com a persona do professor, Novaes traz trabalhos inéditos que refletem sobre o papel da escola, do aluno, do mestre e da arte na rede de produção de significados em que todos nós estamos inseridos. Por meio de brincadeiras, simulacros, provocações e resgates históricos, o artista nos convida a pensar sobre todas as regras invisíveis ou disfarçadas que formatam o ensino no Brasil, revelando as rachaduras, abismos e falências que permeiam todo o sistema. Diante desse cenário, deve mesmo o professor ser o último a se retirar?

Julia Lima

Para a exposição Capítulo2: O professor deverá ser o último a se retirar,

mesmo nos dias de chuva

na Casa do Olhar Luiz Sacilotto/SP - 2018

Diário de Classe

desde 2015

Desenhos e anotações em esferográfica,

corretivo e carbono sobre papel

Encadernações em capa dura tipo brochura

16 volumes atualmente

34 x 22cm cada volume

quantidade de páginas variada

Desenho livre

1988

 

Discurso de formatura

1991

 

documentos do artista como aluno

40x30cm cada

Álbum de formatura

2018 

Grafite e lápis de cor sobre papel 

48 páginas

28x22cm

+ cópia de exposição

Como você quer ser lembrad?

2017 

Fichas remissivas ressignificadas por estudantes em ano de formatura 

81 fichas de 10x13cm

caixa: 11x15x14cm

Ensino Confessional

desde 2017

Confissões pessoais e anônimas repetidas como exercícios de caligrafia

feitas pelo público a partir de instruções de uso na exposição

 

Esferográfica sobre papel e encadernação capa dura tipo brochura

51 volumes atualmente

15x21cm cada volume

Jogo dos erros

2018

impressão Jato de tinta e nanquim sobre papel

díptico de 30x20cm cada

Manual de conduta de corpo docente

2018 

Nanquim sobre papel

35x30cm cada

Manual de conduta de corpo docente

2018 

[livreto]

 Reprodução digital em offset

12 páginas

15x10cm - distribuição gratuita

Corpo Decente

2018 

Instalação sonora

300 quilos de giz branco de lousa e

50 minutos de áudio em looping com depoimentos de professores que foram censurados e/ou discriminados

Dimensões variáveis

trecho do áudio

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