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Em algum recanto do ciberespaço, dois avatares estão chateando em busca de conexão. Nessa conversa, são compartilhadas intimidades e memórias que parecem hackear as noções de tempo e identidade. Um bate-papo atravessado por ausências e ficções. Um chat fabuloso para um público bisbilhoteiro. Quer tc?

31 de outubro – segunda-feira |FANTASIA-MEMÓRIADiálogos com Bruno Novaes e Xikão Xikão

MOSTRA/IA Programa 04: #TEMPO

É o tempo um corpo que se percorre rio?

Dizem que o tempo é poeira, que corre e escorre feito rio ou água, que é fio, que flui em ritmos variados. Dizem por aí que se desdobra, mas que não pode ser dobrado. Será?

para navegar: arraste para o lado ou clique aqui

Faz-se irrecusável este convite para navegar entre águas

onde cada rio desemboca em outros, 

onde os rios confluem mas não se confundem,

escorrem juntos, em ritmos variados, correndo ao mar.

Como se deslocam? Como escolhem as margens que os vão amparar?

O que atravessa cada curso nesse passeio labiríntico onde o tempo é pulso?

Buraco de minhoca, buraco negro, fossas marítmas, vulcões submarinos,

navegar por mapas, cruzar oceanos, atravessar gerações,

portais, porteiras, coordenadas, receitas para percorrer corpos

celestes, humanos, não humanos.

Justapor agora o que foi e o que será.

 

Aqui, semente é matéria que viaja, tempo é oráculo. 

Entrelaçados carregam só o que é preciso para reagrupar rastros daquilo que se cultivou.

Perdemos a noção de tempo, 

perdemos a noção de espaço 

e, ainda assim, podemos saber de certo onde está cada presença.

 

O rio de Abiniel Nascimento é enchente de contar histórias: 

“Sou artista porque minha avó era parteira”.

Os antepassados impregnam seu trabalho,

com eles aprende territorialidade, corporeidade, espiritualidade.

Em batalhas para esquecer a língua, 

reaprende o que é poder falar.

Instaura outros tempos e presenças

na relação estabelecida com a água. 

 

Quantas memórias cabem em um diário?

Quantas outras foram deixadas nas margens?

Bruno Novaes olha para a infância

mirando ternura e violência.

Ao olhar para as sombras, 

encontra a fragmentação de objetos, relações e narrativas.

Ao se demorar no umbral,

habita o lugar onde sobrevive o esquecimento.

 

As sutilezas das relações determinam os fluxos das águas de Charlene Bicalho.

Sua história é a do caminho percorrido antes de desaguar no mar.

Processos que seguem o curso de águas turbulentas

em busca de legados que são desejados e intencionados.

Inventa e percorre relações em instituições e comunidades tradicionais.

Instaura processos, tece redes.

Lições das águas: aprender e ser.

 

Na fala encantada, Santa Sofia tem três filhas: 

a que cura, a que cose e a que fia.

Nita Monteiro conhece as três.

Em suas artes da arqueologia, dos feitos-ditos.

Com elas, vive a casa, revive histórias empoeiradas.

Entrar na casa e mergulhar na memória que revela

álbuns de fotografia, objetos, histórias da família.

Tudo que está ao alcance se trama num corpo de fios e palavras.

 

Entre o que sobra e o que falta, 

Shima sabe ficar com o que permanece.

Sabe que no fim do fim do mundo o corpo faz estratégia de sobrevivência.

Como um poliglota de memórias

é preciso na arte de sobrepor camadas de tempo e espaço.

Em suas mãos a comida é obra que faz sentido quando digerida, 

quando já não existe mais. 

O tempo da digestão escorrega da vista,

no céu da boca sobra palavra.

 

Espelho-espelho meu. Serei eu o que resta de mim?

Como a imagem na superfície da rocha polida obsidiana,

a tela do celular se faz tecnologia ancestral na busca de si.

Nela, Xikão é fantasia

realidade,

falta e excesso,

ser e não ser

Detrás de um riso ensaiado vivem as regras de um jogo ficcional.

Vive um protagonista que se perde de si, 

e volta a se encontrar habitando identidades outras:

serei ele, eu? Será você? Nós? Ninguém?

 

curadoria: Tainá Azeredo, Valquíria Prates, Pompea Tavares

programa de residência artística do instituto de arte contemporânea de ouro preto  [clique aqui]

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